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terça-feira, 17 de outubro de 2017

WRITOBER #17 - Quiet, We're Hunting Rats

Lorenz Hideyoshi Ruwwe


Seis meses passaram desde que Gilass se tinha demitido.
Acordou às cinco de uma manhã digital e sentou-se na ponta do beliche. Estava escuro em todo o lado: na camarata, nos corredores, lá fora em qualquer direcção no espaço. Não havia noção de dia e de noite, apenas um sistema horário que fazia menos sentido quanto mais longe estivessem da Terra.
Alongou os braços um de cada vez, o pescoço e estalou. Enfiou as calças, uma perna de cada vez. As botas, um pé de cada vez. Vestiu a camisa azul que meteu metade nas calças e o resto de fora. O revólver na mesa de cabeceira voltou ao coldre na cintura.
Antes de sair recuperou o casaco de cabedal castanho e parou no espelho. Esfregou os dedos pelo cabelo curto com restos de cera para o ajeitar. Bonna já a esperava lá fora, caminharam as duas em conversa rotineira e desceram até ao hangar. Momoa também lá estava sentado na naveta meio a dormir, meio a meditar. O Capitão abusava disso para passar um ar de superioridade contemplativa. Persimon estava com ele e deu-lhe um murro no braço quando as viu chegar. Suzako entrou na cabina e começou a preparar para sair.
Embarcaram e abandonaram a Centaur. Saltaram e navegaram até à colónia mais próxima. Suzako, o piloto, iniciou o protocolo de autorização para se aproximar. O capitão começou:
"Já sabem. Uma hora: entrar, sair, não dar nas vistas. Suzako, ficas a aquecer o banco. Persimon, sobes e ficas à coca. Milano, caminhas comigo. Bonna, vinte passos atrás - faz a tua cena."
Saltaram para a plataforma e desapareceram nas suas posições. Momoa liderou Gilass pelo mercado até se tornaram homogéneos com os locais. Às tantas, o conhecido deixou de fazer sentido e sentiu-se perdida, novamente pequena num novo mundo. Pessoas de vários tamanhos e feitios passavam por ela, uns deitavam olhares e outros atiravam frases em dialectos estranhos que o tradutor convertia com lag. Um braço tatuado puxou-a para um banco e fê-la sentar-se. Momoa tinha a mesma cara de frete. Odiava desperdiçar tempo e aquilo era mais do mesmo. Levantou dois dedos e dois copos fumegantes foram servidos.
"Bebe." Ponderou... "Ou finge. Tanto me faz."
"O que estamos a fazer?"
"A caçar." Levou o copo à boca. A mulher reparou nos olhos duros do capitão. Havia um misto de tristeza e raiva naquele tremer rápido que assistiu. Também muito atentos ao mundo. Baixou a cabeça e agarrou na bebida. No reflexo do copo, continuou a ver a multidão a escorrer. O Capitão espreguiçou-se e levou a palma ao ouvido e fingiu confidenciar à parceira do lado: Então?... Boa... Não, vamos esperar...
"O que estamos a caçar?"
"Ratos, Milano. Não mexas na arma e porta-te bem."
Seis meses passaram desde que Gilass tinha embarcado na Centaur. E todos os dias havia um teste novo.
Acordou às cinco de uma manhã digital; estava sentada a beber um copo no que passava por um meio-dia artificial e agora caçava ratos. Atrás dela a corrente de pessoas alterou.




Six months have passed since Gilass quit her job.
She woke up at five in a digital morning and sat on her bunk-bed. It was dark everywhere: in the room, the halls and outside in every direction in space. There was no notion of day and night, only a time system which didn't make much sense as you traveled far from Earth.
She stretched her arms, one at a time; her neck and snapped it. Pulled her pants up each leg; her boots up each foot. Dressed her blue shirt and tucked half inside her pants, and left the rest out. The revolver on the nightstand was returned to her waist holster.
Before leaving, she fetched her leather brown coat and stopped by the mirror. Ran her fingers through her short hair to spread some wax. Bonna was already waiting outside, and both walked bantering, and down to the hangar. Momoa was also there, sitting on the shuttle half asleep half meditating. The Captain liked to abuse that to convey a state of contemplative superiority. Persimon was with him and punched him in the arm when the women approached. Suzako jumped inside and started getting ready.
The rest boarded and left the Centaur. Jumped and traveled to the nearest colony. Susako, the pilot, initiated landing protocol. The Captain commenced:
"You know the drill. One hour: go in, get out. Don't draw attention. Suzako, you stay behind to warm up the bench; Persimon, find a high ground and look out; Milano, walk with me. Bonna, twenty steps behind and do your shit."
The team jumped onto the platform and vanished into their positions. Momoa lead Gilass through the marketplace until they blend with the locals. Everything she knew stopped making sense and she was lost again. Some folks looked at her funny and spoke to her with strange languages that were translated with lag. Then, a tattooed arm pulled and made her sit down. Momoa had the same annoyed face. He hated wasting time and that was more of the same. Raised two fingers and two smoking cups were served.
"Drink." He pondered..."Or pretend to. Whatever."
"What are we doing?"
"Hunting." He raised his cup and sipped. The woman took notice of his hard eyes. There was a mix of sadness and anger in that quick flick. They were also sharp and attentive. She lowered her head and grabbed the drink. On the cup's reflection she resumed watching the crowd flowing. The Captain stretched, raised his open palm to the ear and leaned on her, pretending to share a secret: So?... Nice. No, we wait..
"What are we waiting?"
"Rats, Milano. Don't reach for the gun and behave."
Six months have passed since Gilass boarded the Centaur. Everyday there was a new test.
She woke at five in a digital morning; was now sitting down, having a drink by what looked like an artificial noon and was hunting rats. And behind her the stream of people shifted.

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